O que pode fazer uma dramaturga, Maricla Biggia, e um encenador, Claúdio Hochman, a partir das cinco cartas íntimas e desperadas escritas por Mariana Alcoforado ao seu amante, oficial francês,em Paris? O que se vê o auditório do Campo Alegre, num palco aberto de parede a parede é um espectáculo onírico, criativo, inteligente e desafiador, povoado pelas alucinações, devaneios e fantasmas das protagonista, dando vida a Mariana Alcoforado, como uma espécie de alter-egos. É um espectáculo esteticamente muito bem conseguido, excelente, recreando o ambiente claustrofóbico de um convento, com as suas litanias em cantochão, os seus rituais, atravessado aqui e ali pela figura colorida e perturbadora do oficial que visita, em sonhos, a amante. Porque ali tudo é fantasia, onde um violoncelo competente e atento vai enfantizando os momentos mais significativos. Um deleite para quem gosta de TEATRO - a superior arte do fingimento e da cumplicidade.
Já cá fora, entro num café. Na televisão a voz esganiçada de Júlia Pinheiro pergunta a uma concorrente:"Ó Joana, a gente quer saber se há ou não paixão." O que vejo por momentos, é lixo colorido, patamar infra do passa-tempo português. Recordo-me o que ouvi minutos antes, pela boca de uma das actrizes,revivendo uma passagem das cartas de Mariana Alcoforado:
"Que há-de ser de mim? Ai, estou tão longe de tudo quanto imaginei."
domingo, 14 de novembro de 2010
sábado, 13 de novembro de 2010
As cartas da freira de Beja
Mariana Alcofoado,nascida em Beja no ano de 1640, foi uma freira portuguesa do Convento de Nossa Senhora da Conceição. Filha de uma família ilustre, aqui entrou com a idade de 11 anos, destinada a uma vida de oração, entregue a Cristo. Como acontecia a milhares de meninas não a movia um apelo divino. Era uma prática social, numa altura em que imperava o morgadio. Mariana nasceu exactamente no ano da restauração da nacionalidade -1 de Dezembro de 1640. A guerra contra Castela que se seguiu ao longo de décadas, trouxe a Portugal uma série de soldados, oficiais e mercenários. Entre estes vinha Nöel Bourton,aristocrata francês.Foi em Beja que se conheceram e logo a paixão avassaladora dominou Mariana.O escândalo depressa estalou. O francês, temendo pela vida,já que os Alcoforados eram uma família poderosa,regressou a França,embora deixasse a promessa a Mariana que regressaria a Portugal para a resgatar do convento. O que nunca aconteceu.
Esta sua ausência, sofridíssima, levou Mariana a escrever cinco cartas de amor e paixão. Redigidas possivelmente em 1667 e 1668, elas pertencem à literatura universal. Escritas em francês,há uma excelente tradução feita por Eugénio de Andrade. Mariana Alcoforado morreu em 1723, com a idade de oitenta e três anos. Da sua vida resta-nos a sua campa no convento e as suas cartas.
São elas que o Teatro do Campo Alegre e o Seiva trupe têm em cena até ao final do mês de Novembro. A não perder!!
Esta sua ausência, sofridíssima, levou Mariana a escrever cinco cartas de amor e paixão. Redigidas possivelmente em 1667 e 1668, elas pertencem à literatura universal. Escritas em francês,há uma excelente tradução feita por Eugénio de Andrade. Mariana Alcoforado morreu em 1723, com a idade de oitenta e três anos. Da sua vida resta-nos a sua campa no convento e as suas cartas.
São elas que o Teatro do Campo Alegre e o Seiva trupe têm em cena até ao final do mês de Novembro. A não perder!!
terça-feira, 9 de novembro de 2010
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
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