Adoro monólogos, o artista colocado em cima da navalha, só, sem as muletas das réplicas e das deixas. É como Marcel Marceau, na solidão de um palco vazio, vazio, vazio. Só - e aqui neste espectáculo, falo de uma contida mas muito expressiva Elsa Galvão, sempres sentadinha e modesta -o artista monologador consubstancia-se em si mesmo como o único ponto de confluência e ao mesmo tempo o único ponto de fuga.
O texto de "A Fala da Criada dos Noailles" foi uma inesprada surpresa, não tanto pela qualidade do texto, longe de mim! -mas pela ironia muito britânica de que está impregnada. Rapidamente, numa breve sinopse, direi que a criada Severine, recorda os anos loucos antes da guerra que viveu em casa do Noalles, mecenas franceses e endinheirados, que recebiam em jantares, estadias e orgias gente ligada à arte. Num discurso que avança, recua e se repete,tal como as 33 assobiadelas ou toques de campainha que monolgante refere, isto é, "O Bolero" de Ravel, fazem-se alusões a convidados immporantíssimos, referenciando-os vagamente não pelos seus nomes soantes da cultura mas apenas por alusões: Maurice Ravel é apenas monsieur,assim como Cocteau: monsieur Jean. Até Picasso, cujo nome nunca se explicita é referido perifrariamente e reiteradamente como "o espanhol pequenito e entroncado". E ainda aquele leit-motiv, inquietante, cínico e provocador:
"A arte não serve para nada. Só para gastar dinheiro"
No final, fechando-se o tempo, a telão de fundo abre-se, num quadro vivo para os fantasmas de Severine virem até nós.
O teatro, este bom teatro a que vamos assitindo nas salas do Porto não serve para nada? Pois não. Nem tem que servir. Para isso temos as novelas narcóticas e os filmes mediocres da LusoMundo e da Castello Lopes. Bom, mas isso são outras cenas, outras fitas.
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
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