segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Emilia Silvestre em "Dueto Para Um" de Tom Kempinski

Emilia Silvestre & Jorge Pinto em "Dueto Para Um"

Emília Silvestre "é" Jaqueline du Pré

Está em cena no Teatro Carlos Alberto, até ao dia 24 de Outubro, a peça de Tom Kempinsky, "Dueto para Um" inspirada naquela que foi uma das mais estraordinárias e precoces viloncelistas dos tempos modernos: Jaqueline du Pré e que uma esclerose múltipla, galopante retirou da cena musical. Quem a quiser ver, é sintonizar o canal Mezzo - 150 do Meo, ou 151 da Zon, dedicado exclusivamente à música (mal) dita clássica ou séria. Aqui passam algumas gravações da violoncelista.
Falemos do espectáculo. O espaço cénico do Carlos Alberto, foi radicalmente encurtado, tornado claustrofóbico, as duas paredes laterais pintadas de branco. Ao fundo, numa aberura para a vida, uma mesma paisagem que ao longo da peça vai sofrendo as transfrmações impostas pelo correr das estações -talvez numa resposta cénica à questão básica e estruturante que o psiquiatra coloca à protagonista: "Senhora Abrahms, sabe qual é o sentido da vida?"
Na peça, um texto de escrita difícil em que o autor não cai na comiseração nem na tristeza faduncha, Stephanie Abrahms (Emília Silvestre) é consultada pelo psiquiatra Dr. Alfred Feldman (Jorge Pinto) num desejo de levantar o moral "a quem se encontra em baixo". Não há aqui tristeza faduncha porque Staphanie recusa a auscultação de qualquer inquietação anímica, que a exporiam o seu lado frágil.
São duas horas de puro e grande teatro. Cai-nos no colo de espectadores uma Emília Silvestre (como nunca a tinha visto): trágica,. devoradora, provocadora, dessimulada, excessiva, grosseira (sem medo de recorrer, já na sexta sessão terapêutica, a um jargão digno de um carroceirto). Muitíssimo bem dirigida pelo encenador Carlos Pimenta, a actriz dedobra-se em registos de voz e inflexões absolutamente notáveis, tanto mais que todo o seu desempenho está confinado a uma cadeira de rodas. Aquela que foi adorada por milhões de amantes da música e que da música vivia como um hausto animíco acaba, termina no final, o ser humano que é, despojado de todo o resto.
E por aqui me fico. Foram duas horas de prazer de alma e agradecer a toda uma equipe que levantou o espectáculo. São coisas como esta que me reconciliam com o ser humano. E "A Casa dos Segredos" que passa na TVI, uma bolha vazia, móbida e estupidificante? Sãoquase um milhão de espectadores a ver a coisa. Bom, mas isso são outras novelas, outras teatrices.