quinta-feira, 20 de maio de 2010

Três actrizes, três mulheres de Pedro I, o Cruel

Na fotografia temos as três actrizes que, no texto de José Carretas, "Pedro e Inês", representam outras tantas mulheres que estiveram envolvidas, e de que maneira, com D. Pedro, o Cruel. A primeira da esquerda é Ana Margarida Carvalho, no papel da plebeia Teresa Lourenço, que vai dar à luz, um bastardo: nem mais nem menos do que aquele que haveria de ser um grande rei: D. João I. Ao centro está Isabel Francisco como Inês de Castro,a belíssima galega. A seguir é Linda Rodrigues num papel que, na imaginação de Jose Carretas, representa simbolicamente todas as mulheres que esse rei desaparafusado violou.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Fotos do espectáculo "Papalagui"

Estas são duas fotos de Paulinho Oliveira no seu excelente desempenho em "Papalagui"

O PAPALAGUI, pelo Pé de Vento.

Lembro-me que o livro "Papalagui" circulou em Portugal, profusamente, poucos anos depois do 25 de Abril.Trata-se, como de todos é sabido, do discurso de Tuiavii, chefe de uma tribo  das ilhas Somoa, depois de ter visitado a Europa, na primeira década do século XX. Palavras desconcertantes na sua filosofia primária mas primordial, que não deixam de inquietar e interrogar a quem as ouve. Não era isto a linha de força de Sócrates ( o senhor engenheiro não é para aqui chamado!), o interrogar, respondendo a um impulso interior?
Mas aqui, enquanto amante de teatro e no registo das minhas emoções, o que me interessa é o que se passou no palco e a maneira como João Luiz pegou num texto (in)cenável, sem didascálias, nem nada. Fê-lo de uma maneira criativa e sabedora, recorrendo uma pequeno número de praticáveis, que manuesados pelo actor, mais não faziam do que sublinhar e enriquecer o monólogo. Particularemente bonita, embora propositadamente claustrofóbica, toda a cena dentro do cubo:
"É perigosa esta maneira de indagar e contar as luas.Sabemos que ao fim de muitas luas estamos próximo da morte e acabamos mesmo por morrer", diz o chefe Tuiavii.
Há no desempenho de Paulinho Oliveira uma presença física muito forte, uma excelente dicção - pouco actores possuem esta imprescindível ferramenta - e momentos de pausa que nos permitem reflectir. O seu registo vocal, cheirando aos calores  africanos, muito ganharia se carregasse no seu sotaque "angolanês", com o que lhe daria um tom exótico. O desenho de luz, um aspecto de que muitos espectadores não dão conta, é muito bem conseguido.
É de louvar trabalho do Pé de Vento, e do João Luiz, em particular, pela luta insana que trava para chamar ao teatro a canalha pequena, e não só, formatada na "morangada", na avalanche etílica das novelas e na rasquice dos filmes da Luso Mundo e Castello Lopes. É trabalho militante em prol da cultura a que muitos dão pouca importância.
Bom, mas isso, são outras cenas, outros teatros. Ou outras novelas.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Ainda acerca de "Pedro e Inês", de José Carretas

Como eu gosto de chamar às coisas e às gentes pelos nomes que lhes deram na pia baptismal -as coisas também têm os seus baptismos -aqui vão os nomes dos actores que aparecem, abaixo, nas fotografias de ensaio. Pedro,o destrambelhado rei, é André Brito - com um desempenho excelente, sabendo emprestar à figura os antagonismos que ela obriga. Inês a, bela galega,  apaixonadíssima amante de Pedro, é Isabel Francisco, num papel dilacerado e comovente. Pedro Fiuza é o rei, entre outras personagens que o registo da peça e as opções do encenador implicam. Gostei dele, particularmente. Há ali saber e presença, uma voz madura no meio de tantos jovens actores que José Carretas entendeu, e bem, trazer para o elenco.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Aquele tal Pedro, o rei desaparafusado, e sua Inês

Fui ver mais  uma vez um espectáculo do CACE Cultural do Porto, saido da cabeça do José Carretas, um dos mais criativos encenadores que temos por aqui, sendo ele próprio o autor do texto. Aquele rei desaparafusado, em quem se concentraram algumas das taras paridas na consanguinidade ancestral -cruel, paranoico, obssessivo, bipolar ao máximo, predador sexual - continua a  ser fonte de inspiração e atracção. Sabia que, ao contrário de muitos outros criadores, o José Carretas não pretende no que escreve, introduzir visões particulares de acontecimentos passados. É aquilo que é, e pronto. Mas sob este manto de aparente objectividade, José Carretas não dá ponto sem nó. E o início do espectáculo, com aquele coro "grego" dissertando sobre a maldade de que são feitas as nossas entranhas dá o mote a todo o resto: o ser humano não é flor que se cheire. E logo de seguida arrasa-nos com um coito descarnado, com dois corpos que parecem degladiar-se  numa luta sangrenta. Adiante, que isto dará para uma próxima crónica.
Como já esperava é um espectaculo, apesar da rudeza que por ele perpassa, de uma grande beleza estética. Há soluções cénicas muito bem conseguidas, marcações irrepreensíveis, mudanças de cenas de um rigor profissional. Comovente o monólogo de Maria Rossada (isto é, violada), pela boca aqui da vianense Linda Rodrigues. Tremenda toda a cena que corporiza o assassinato de Inês. Muito bom o desempenho do "Pedro" cujo nome desconheço - o programa é omisso, quanto a mim mal, em indicar quem é quem.
A cena final, recordando-nos como Pedro e Inês se acham sepultados em Alcobaça, é extramente bela. Sem subterfúgios recomendo vivamente este espéctaculo.  Larguem a modorra embrutecedora do sofá, libertando-se da alienação televisiva e do tsunami de novelas simplórias. É daqueles espectáculos que, mantendo uma superior qualidade, é capaz de trazer novos públicos para essa coisa extraordinária que é o Teatro, a nobre Arte do Fingimento. Bom, mas isso são outras cenas, outros teatros. Ou outras novelas.

domingo, 9 de maio de 2010