domingo, 14 de novembro de 2010

Mariana Alcoforado - um espectáculo onírico no Teatro do Campo Alegre

O que pode fazer uma dramaturga, Maricla Biggia, e um encenador, Claúdio Hochman, a partir das cinco cartas íntimas e desperadas escritas por Mariana Alcoforado ao seu amante, oficial francês,em Paris? O que se vê o auditório do Campo Alegre, num palco aberto de parede a parede é um espectáculo onírico, criativo, inteligente e desafiador, povoado pelas alucinações, devaneios e fantasmas das protagonista, dando vida a Mariana Alcoforado, como uma espécie de alter-egos. É um espectáculo esteticamente muito bem conseguido, excelente, recreando o ambiente claustrofóbico de um convento, com as suas litanias em cantochão, os seus rituais, atravessado aqui e ali pela figura colorida e perturbadora do oficial que visita, em sonhos, a amante. Porque ali tudo é fantasia, onde um violoncelo competente e atento vai enfantizando os momentos mais significativos. Um deleite para quem gosta de TEATRO - a superior arte do fingimento e da cumplicidade.
Já cá fora, entro num café. Na televisão a voz esganiçada de Júlia Pinheiro pergunta a uma concorrente:"Ó Joana, a gente quer saber se há ou não paixão." O que vejo por momentos, é lixo colorido, patamar infra do passa-tempo português. Recordo-me o que ouvi minutos antes, pela boca de uma das actrizes,revivendo uma passagem das cartas de Mariana Alcoforado:
"Que há-de ser de mim? Ai, estou tão longe de tudo quanto imaginei."

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