segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Júlio Cardoso é a sua própria mulher

Também quero dar aqui a minha modesta contribuição para a homenagem a essa extraordinária personagem da cultura e do teatro que se chama Júlio Cardoso. Infelizmente neste país de alfabetizados pelas novelas e pelos noticiários das desgraças, em que um espirro do chutador Cristiano Ronaldo pode fazer parar o país, o nome de Júlio Cardoso a 90% da população portuguesa nada diz. Mas devia dizer, e muito.
Não vou estar agora aqui a papaguear  tudo o que este querido homem de teatro fez e não fez (ele disto leva 50 anos!),mas não posso deixar de recordar a peça de Copi "Uma visita inoportuna", encenada pelo Castro Guedes, um espectáculo de arrepiar pelo que tinha de trágico,cómico e desinquietante.
Apenas quero dizer que o JÚLIO CARDOSO vai estar em cena,sozinho, numa espécie de fio da navalha,a partir de 8 de Janeiro, no Teatro do Campo Alegre com um monólogo que se chama "Eu sou a minha própria mulher", de Doug Wright, um título estranho e maravilhosamente conseguido, porquanto trata da tragédia de um travesti alemão, que mesmo em pleno nazismo( perseguidor de judeus, ciganos,deficientes mentais  e homossexuais)nunca abdicou da sua orientação sexual. A peça ganhou uma mão cheia de prémios, o Pulitzer, por exemplo,e ainda o Tony Award,que é uma espécie de Oscar, isto para quem acredita na qualidades dos filmes premiados com Oscares...
Quero ainda dizer, que  o encenador é outro nome de suspender a respiração, que é o João Mota, rapaz culpado  do meu amor ao teatro quando nos anos setenta vi esse fabuloso "Para Onde Is?" da sua Comuna, numa garagem atrás da fábrica da cerveja,em Lisboa.
Ir em Janeiro ao Teatro do Campo Alegre é, em nome das luzes da cultura, uma prova de lucidez, de bom senso e bom gosto, Que grande é o mundo para lá da televisão!
Bom, mas isto são outras estórias, outras cenas.
 

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