segunda-feira, 1 de março de 2010

Trinta e cinco anos depois revi a MÃE, de Brecht


Foi com alguma expectativa da minha parte, e porque não dizê-lo, com uma certa emoção que fui ao S. João ver a  peça mais  emblemática de Brecht: "A Mãe". Tinha-a visto a seguir ao 25 de Abril, na Comuna, com música e letra de José Mário Branco, e protagonizada por uma extraordinária actriz, quer entretanto e desgraçadamente "desapareceu de cena": Manuela de Freitas. Tinha desse espectáculo uma memória comovente, esteticamente bela. Desse espectáculo comprei vários "Lp-vinis" e sei que os ofereci a uns quantos amigos.
Passados que foram trinta e cinco anos, as coisas mudaram: o mundo, a sociedade, as aspirações operárias, as manhas anestisiantes do capitalismo, e eu, claro. Num texto profundamente engajado, acreditando na revolução do socialismo, Brecht tece uma teia em que uma mãe, analfabeta e inculta, por amor ao seu filho acaba por participar na revolução socialista. O texto de Brecht detém-se, avisadamente, na revolução russa de 1917.
Não deixando de ser  a obra que é, esta Mãe, de Brecht, apesar de ter que ser lida, interpretada e vista com outros olhos está demasiada colada, e encurtada na sua amplitude, pelo seu engajamento político, por vezes panfletário. Aquilo para que a peça aponta, um mundo socialista, livre de opressores numas manhãs que cantam, já foi posto em prática. Os meios de produção e o produto do trabalho dos operários, já (Já?)esteve em mãos desses mesmos operários. E tudo, eu diria com a minha alma dorida, falhou. O mundo soviético veio por aí abaixo, desmoronando-se fragorosamente. E por isso me senti tão desconfortável por ver passar à minha frente, naquele palco, a corporização de uma palavras de ordem em que eu já acreditei.
Com utopia e pés na terra, as manhas e os tentáculos alienantes do capitalisno e do neo-capitalismo é que têm que ser denunciados. Mas não assim, por muito que queiramos ler Brecht com outros olhos, tal como propõe Jaquim Benite, o (grande) encenador. Mas como?
A ganância do capitalismo americano conduziu-nos a este estado económico de cataclismo. Mas ele sobreviveu, e nos EUA, a banca que recebeu inimagináveis maquias para repor a sua liquidez, à conta dos contribuintes, continua  a dar chorudos prémios pevuniários aos seus directores, os mesmos que fizeram sossobrar a economia mundial, tornando os pobres mais pobres..
Foi, apesar de tudo, um espectáculo que acabei por gostar de ver.
No entanto, e aqui recordo alguns dos grandes actores portugueses que nunca fizeram novelas, como diz o João Mota, penso que de uma forma extremista, "nunca se venderam". É que dois dois dos operários do elenco, eram figuras muito conhecidas da uma série medíocre e pateta da SIC que se intitulava "Os malucos do Riso". Estarei a cometer uma enorme e grave injustiça e que me perdoem por isso. Mas eu olhava para eles, e só via os dois polícias, naquela série tonta, a dizerem bojardas para provocarem o riso.
Terá o João Mota razão? Não pode um actor deixar-se contaminar por sub-produtos da TV? Claro. Vejo às vezes o António Capelo a fazer uma boa série na TV sobre advogados e quando o vi no "Othelo," nem um poucochinho foi a sua imagem beliscada.
E quanto a Brecht não percam, quando disso tiverem oportunidade, de ver aquela que é para mim a sua melhor peça: "O Círculo de Giz Caucasiano".
E a Brecht o que fazemos? Bom, mas isso são outras cenas e outros teatros.

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