segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Fui a Vila Flor ver o Jardim Zoológico de Cristal

Fui a Guimarães ver mais um intrigante e desafiador texto de Tenesse Williams, exactamente este Jardim Zoológico de Cristal (no original Glass Menagerie). A memória mais remota que tenho de Tenesse Williams, remonta aos anos sessenta quando era aluno universitário em Lisboa e tive que ler no original a celebérrima e muito conhecida Gata em Telhado de Zinco Quente, para uma cadeira do quarto ano que se chamava História da Cultura e das Instituições Americanas(correctamente deveria chamar-se Norte-Americanas, mas enfim...). Lembro-me que na altura  o docente de quem não me lembro o nome, ter chamado a atenção para o facto de Tenesse Williams ir sacar ao nosso insconsciente individual aquilo que por lá anda recalcado, por certo, isto garantia ele, influenciado por Freud. Acho que dizia o mesmo do Arthur Miller com o seu Morte de Um Caixeiro Viajante, mas não posso garantir.
Numa época salazarenta, em que praticamente não havia teatro - vinha de uma terra, Leiria, onde aparecia de vez em quando a celebérrima companhia Rafaael de Oliveira.com umas peças do Ramada Curta, que outras a censura não autorizava - a leitura de A Gata deixou-me assarapantado e confuso, indo direitinha às apetências e desejos de questionamento de um jovem com pouco mais de vinte anos. 
Neste Jardim Zoológico de Cristal a primeira das suas sessenta e tal peças a dar-lhe notoriedade na cena americana, (parece que Tenesse Williams foi mais adaptado ao cinema que Shakespear) vem ao de cima aquilo que é comum na obra de Tenesse Williams: diálogos simples, envolventes, frontais e brutais, que são ao fim e ao cabo a expressão  das tensões sexuais encobertas e violência reprimida.
A mãe - Amanda- a personagem principal que faz mover a intriga na peça, é mais uma entre muitas da extraordinária galeria do dramaturgo, mesquinha, autoritária e baralhada. Quem podia levantar esta personagem se não a Maria do Céu Ribeiro, possivelmemente (as outras que me perdoem) a melhor actriz que anda por este Porto? Quem não a viu em Psicose, no estúdio Zero, daquela paranoica chamada Sarah Krane, devia ter visto.
A peça escrita a seguir á crise económica dos anos vinte, tem uma dolorosa actualidade. Falta-nos dinheiro e tudo queremos comprar. Falta-nos um salvador e esperamos que um D. Sebastião nos venha salvar: com o euromilhões, ou com um casamento, como é a solução que procura a mãe para a filha manca, Laura. O salvador vem, sim na pessoa do charmoso Jim (curiosamente interpretado por um actor que se chama Romeu Costa). Veio e não devia ter vindo? A solução cénica engendrada pelo Nuno Cardoso é extremamamente criativa, para além das marcações rigorosas, determinados momentos de pausa, suspnsivos e muito ricos, e ainda o desenho de luz. E depois há o rigor do guarda-roupa.Lembro-me que o meu pai vestia um pouco como o Jim, embora com menos chame, claro.
Bom, a peça vai andar por aí e se alguém me ler e gostar de teatro ele é um "must", como agora se diz.
O problema é o bom povo português largar o sofá, derreado pela ditadura da telecracia: televisão, telemóvel, internet. Bom mas isso são outras histórias, outras cenas.
Outubro de 2009

Sem comentários:

Enviar um comentário